
Fiz meus estudos no Colégio Visconde de Porto Seguro. Antigamente, o colégio ficava na praça Roosevelt. A praça, um espaço amplo, mais ou menos abandonado, com arbustos esparsos e chão em parte asfaltado e em parte de terra batida, era usada como estacionamento e, nas quartas e sábados, acho, virava uma feira livre, muito boa e movimentada. Apesar de ser uma área descuidada e indefinida, era muito melhor do que a praça de hoje, a meu ver, um monstrengo de concreto frio, desumano, desajeitado e artificial. Na praça antiga, isso na década de 60, morava um mendigo. Ficava por lá, andando para cima e para baixo, seguido por um séqüito de vira-latas. Vi esse homem todo santo dia durante anos, com sua barba grisalha, seus olhos claros e uma espécie de meia enterrada na cabeça. Era uma figura estranha e bonita. Costumava sentar-se numa mureta, perto da rua Gravataí, cruzava as pernas com elegância e, puxando um papel enorme do bolso do paletó, punha-se a escrever com um toco de lápis. Às vezes parava e, sério, mostrava o texto para os cachorros. Lembro que os animais levantavam-se e parece que liam aqueles escritos com um certo interesse. Quando ficava cansado, o mendigo dobrava e guardava o papel no bolso e partia vagaroso pela praça, seguido por seus companheiros caninos, examinando as nuvens concentrado e pensativo, com os braços cruzados nas costas.
Ricardo Azevedo.
Via
São Paulo, minha cidade.
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